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abstrato.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Andei lembrando de pequenas frases que ficaram marcadas na minha memória, por sei lá qual motivo. Isso acontece frequentemente comigo, principalmente porque costumo prestar atenção em todas as palavras de uma simples citação, claro se me interessar. E lembrei exatamente de uma aula de história que estava assistindo na oitava série do ensino fundamental. Nessa época, talvez por falta do que fazer, ou porque eu gostava mesmo, costumava fazer desenhos nas unhas. Perdia muito tempo com isso, mas ele era tão vago que não me fazia falta. Sempre a professora de história observava e comentava sobre os desenhos. Certa vez, aprendi a fazer uma flor bem tribal, grande e ficava um efeito bonito. Mas não conseguia fazer nas duas mãos, por falta de habilidade com a mão esquerda e sempre mostrava ela para a professora. Dessa vez, Stella pediu para ver a outra mão e eu estendi a direita envergonhada. Como um reflexo, ela disse: "Eu prefiro essa. Prefiro as artes mais abstratas." Juro que desde então, me pego pensando nisso. Besteira, bobagem... ela nem deve lembrar, mas eu não esqueço. E graças à ela, passei a admirar o expressionismo abstrato, mas não só na forma de arte, até mesmo o termo abstrato me leva a pensamentos longos, viagens a planetas distantes. O "ser abstrato" me chama atenção. Até mesmo quando se fala de amor, é tão mais bonito quando é assim, simplesmente é. Nada além disso. Nada de declarações, nada de compromisso com a palavra, apenas o brilho nos olhos ou no sorriso, é mágico. E quando eu escrevo sobre a falta de estrutura do amor, apenas uma música paira nos meus ouvidos e me faz viajar nessa letra fantástica escrita por Lulu Santos, "(...) deixa assim ficar subentendido, como uma idéia que existe na cabeça e não tem a menor pretensão de acontecer. Eu acho tão bonito isso, de ser abstrato baby, a beleza é mesmo tão fugaz (...)" Em outras milhares de formas, ser abstrato. Não saber quem se é, quem se quer ser, apenas deixar a vida trilhar o seu caminho. Caminhar sem preocupações, viajar quando quiser (mesmo que seja deitado, olhando pro teto e vendo os desenhos como se fosse em nuvens), respiraar, sentir o vento, apreciar o verde... tudo isso é tão abstrato! Tão magnifíco! Aprender, deixar de ser uma "absolute beginner", uma iniciante... vamos nos permitir viver o abstrato, o etéreo, com leveza, sem preocupações, ansiedade e culpa?